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terça-feira, 4 de junho de 2013

LER E NÃO ENTENDER: A CHAGA QUE AFETA ATÉ A ELITE BEM FORMADA



O Indicador do Alfabetismo Funcional 2011-2012, do Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, mostra que só 1 em cada 3 brasileiros (35%), e 2 em cada 5 com formação superior (38%) têm nível insuficiente em leitura. É gente que ocupa o refinado nicho das pessoas qualificadas do país, ocupando uma parcela significativa da população: simplesmente não entendem o que leem. Há também uma crise na escrita, uma incapacidade de expressão por meio de um texto, uma relação direta com o apagão da leitura no país. Os analfabetos funcionais representam 27% do país e menos da metade da população (47%) tem nível de alfabetização considerado básico.
Para Fernanda Cury, os dados demonstram que o Brasil avançou nos níveis iniciais de alafabetização, mas não conseguiu progressos visíveis nos níveis mais altos, que são a condição para inserção plena na cultura letrada. Segundo Manolo Florentino, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no plano acadêmico a cadeia começa no ensino básico, depois na graduação e pós-graduação - tentando tapar buracos da formação dasetapas anteriores - revelando uma forte incapacidade de expressão: não fomos educados para leitura e nem para cultivar vocabulários e tão pouco temos o hábito de frequentar bibliotecas e como agravante, o livros são caros. Ela ajudou a criar o Inaf e comenta que "existe a necessidade de modelos flexíveis que permitam a qualquer brasileiro ampliar os estudos quando desejar, em distintas fases da vida".
O Ministério da Educação (MEC) avalia que o resultado é reflexo da exclusão histórica do brasileiro, dos séculos da  falta de investimento no acesso popular à educação. Os sistemas de ensino municipais e estaduais responsáveis pela oferta da educação básica, vêm buscando organizar a oferta de educação de jovens e adultos, mas enfrentam dificuldades em mobilizar o público devido a falta de atratividade: antigamente o foco era universalizar, hoje é a melhoria da qualidade de ensino.
O problema de leitura se agrava com as dificuldades pessoais provocadas pelo desenvolvimento inadequado de habilidades metacognitivas, ou seja, que ajudam a pessoa a dar-se conta de controlar seu processo de aprendizagem. Segundo Luciana Vellinho Corso (professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) as pesquisas mostram que os bons leitores utilizam estratégias cognitivas e mais adequada como:
a) Ler e checar se entendeu;
b) Fazer perguntas sobre o texto;
c) Ler novamente quando o texto deixa de ser entendido;
d) Destacar as ideias principais;
e) Repetir o que foi lido usando suas próprias palavras;
f) Grifar termos desconhecidos.
Saber que o ensino superior não melhora a condição intelectual de universitários é um dado preocupante para Antonio Xavier (professor de português e linguística da Universidade Federal de Pernambuco), não há relação direta entre alta escolaridade e sensibilidade aguçada para viver eticamente, daí a necessidade de que a capacitação interpretativa venha da iniciativa do Estado e da iniciativa privada e, logicamente, do próprio indivíduo. Para Anete Abramowicz (Departamento de teorias e práticas pedagógicas da Universidade Federal de São Carlos), o aumento do PIB é só parte do problema, além da reformulação dos currículos, a criação de uma carreira para docentes da escola básica e a garantia de infraestrutura na escola. O português é uma língua sofisticada, não há como exercitar a língua senão escrevendo e e lendo; além disso, os livros no Brasil são caros e deve-se estimular o gosto pelo livro.


Fonte: Revista Língua Portuguesa - Ano 8 - n° 83 -2012 - Trechos do artigo:O apagão da leitura por Adriana Natali

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